Para ajudar você a estudar para concursos na área da educação, trouxe mais um resumo dos Parâmetros Curriculares Nacionais para os anos iniciais do ensino fundamental. Dessa vez trataremos da disciplina Língua Portuguesa.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
Já começamos partindo do seguinte ponto: o domínio da língua, tanto oral quanto escrita, é fundamental para a participação social efetiva. Portanto, o professor tem a responsabilidade de garantir o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania.
Porém, o que vemos é o péssimo desempenho em avaliações nacionais e internacionais e um elevado número de analfabetos funcionais.
Para entender melhor essa situação e a transformação de ideias até chegar a essa obra, precisamos voltar um pouco no tempo.
Partindo dos anos 60. Nessa época os professores aplicavam exercícios de prontidão e acreditavam estar no aluno a causa do fracasso escolar. Se as outras crianças conseguiam, devia faltar algo nesse aluno que não aprendeu e ele devia compensar esse déficit (se esforçando mais, estudando mais).
Já nos anos 80, começaram a aparecer livros e artigos de pessoas interessadas em entender o processo de alfabetização e “como se aprende”. Por meio desses estudos foi possível perceber que a criança sabia muito mais do que se supunha até então, que não entrava na escola completamente desinformada, mas possuía conhecimentos prévios.
Também foi possível compreender que a alfabetização não acontece através de memorização. O aluno precisa construir um conhecimento de natureza conceitual, ou seja, além de compreender a forma gráfica da escrita, é preciso compreender o que a escrita REPRESENTA.
No que se refere à linguagem oral, surgiu a concepção de que não se trata de ensinar a fala “correta”, mas sim a fala adequada ao contexto de uso.
Atualmente…
Par ao ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa a escola, é necessário haver a articulação de três variáveis: o aluno, a língua e o ensino, que podem ser substituídas pelos termos: sujeito, objeto e método.
O aluno é o SUJEITO da ação de aprender, aquele que age sobre o conhecimento.
O OBJETO de conhecimento é a Língua Portuguesa como se fala e escreve fora da escola.
E o MÉTODO é o ensino, a prática educacional que organiza a mediação entre sujeito e objeto de conhecimento.
Para isso funcionar o professor deverá planejar, implementar e dirigir atividades didáticas atreladas basicamente à DIVERSIDADE DE TEXTOS e a PRÁTICA DE REFLEXÃO SOBRE A LÍNGUA. Parece pouco, né? Mas em meio a isso há um mar de possibilidades.
Com relação à diversidade de textos, os Parâmetros apresentam que cabe à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinando a produzi-los e interpretá-los. Isso serve para todas as disciplinas e nesse ponto surge a possibilidade de interdisciplinaridade do português. Dessa forma, o professor deve levar para sala de aula diferentes tipos de texto que circulam na sociedade.
Nesse capítulo os autores levantam um tema muito importante que é “Que fala cabe à escola ensinar”. Isso porque há muito preconceito decorrente do valor social que é atribuído aos diferentes modos de falar. Em outras palavras: muitas pessoas consideram a variante linguística do sudeste como a “correta” e a do nordeste ou do sul como “erradas”.
O Brasil é muito grande em sua extensão e cada região desenvolveu suas características linguísticas. Não quer dizer que uma é certa e outra é errada. Não existe uma única forma de falar.
Um grande exemplo disso é o acordo ortográfico que veio para aproximar o português falado em diferentes partes do mundo. Por mais que surjam reformas, a língua é viva e se modifica muito rápido. Cada país tem suas próprias expressões e gírias. É impossível unificar.
Outro preconceito é com a linguagem informal. Quantas pessoas não torcem o nariz quando alguém entra numa sala dizendo, por exemplo: “hoje a gente vai sair”. Perceba que a frase nem apresenta erro de concordância, mas a normal culta tem mais prestígio.
Não é o caso também de deixar o aluno acreditar que a expressão “nóis vai” está correta, mas mostrar outras formas de uso da língua, inclusive adequando ao contexto de comunicação. Logo, o aluno precisa saber que numa conversa entre amigos não tem problema usar a linguagem coloquial, mas em algumas situações (seminários, palestras, debates) a linguagem exigida é a formal.
Dois pontos muito importantes para o ensino de Língua Portuguesa: diversidade textual e prática e reflexão sobre a língua
Diversidade textual
Não é porque a criança está no início da alfabetização que o professor só poderá usar em sala textos curtos e frases simples. É preciso trazer textos comuns do cotidiano, mesmo que o aluno ainda não consiga ler sozinho, como notícias, textos informativos, piadas, crônicas. Afinal, não se formam bons leitores oferecendo materiais empobrecidos.
Prática e reflexão sobre a língua
É um nome comprido para algo que conhecemos muito bem, pois é aqui que entra a temível GRAMÁTICA.
Quando se pensa e se fala sobre a linguagem, realiza-se uma atividade de natureza reflexiva. Essa análise linguística pode ser classificada em METALINGUÍSTICA e EPILINGUÍSTICA.
As atividades metalinguísticas é o que chamamos de gramática, ou seja, é uma análise voltada para a descrição, por meio de categorização e sistematização dos elementos linguísticos. Por exemplo: no estudo sobre verbos entendemos quais são suas classificações, características e quando usar. Mas veja: não é só ensinar a gramática para prova ou para decorar a matéria. A gramática é necessária para produzir textos de qualidade, coerentes e coesos. Portanto o estudo da gramática deve surgir conforme a necessidade no uso cotidiano.
E as atividades epilinguísticas estão voltadas para a reflexão do uso da língua. Fazemos isso no dia-a-dia sem perceber, como quando, no meio de uma roda de conversa, dizemos “O que você quis dizer com isso?”.
Para simplificar muito: as atividades epilinguísticas seriam mais relacionadas ao significado e contexto das palavras e as atividades metalinguísticas seriam uma análise categorizando as palavras.
CONTEÚDOS
Antes de dividir os conteúdos previstos para o primeiro e segundo ciclo, é importante entender que esses conteúdos possuem eixos organizadores, que são:
LÍNGUA ORAL (usos e formas)
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LÍNGUA ESCRITA (usos e formas) |
ANÁLISE E REFLEXÃO DA LÍNGUA
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Além disso, há outro eixo que acompanha a todo instante a prática pedagógica:
USO ———-> REFLEXÃO ————> USO
Pressupondo um tratamento cíclico. É por isso que os mesmos conteúdos aparecem ao longo de toda a escolaridade, só com alguns acréscimos e aprofundamentos.
Na prática: o professor começa com uma situação (texto, frase, música), surge um problema (escolha de algum verbo, pontuação, colocação de alguma palavra), então o professor propõe uma reflexão e análise sobre aquele assunto e depois, adicionada esse novo conhecimento devolve para o uso novamente. Afinal, não tem sentido aprender gramática só por aprender. É preciso saber usar.
Por muitas vezes a escola dá mais importância à língua escrita, que é a exigida nas provas nacionais. Porém, para o mundo fora da escola, a língua oral tem a mesma relevância que a escrita. O aluno precisa aprender a expressar suas opiniões clara e objetivamente, além de usar a postura e as palavras adequadas em cada situação. Falar bem também requer autoconfiança e isso pode ser trabalhado em sala.
Os gêneros textuais são muito usados na escola, mas existem também gêneros orais como entrevista, debate, palestra, seminário e teatro, cada um com suas características.
Não é possível dissociar leitura e escrita já que uma complementa a outra. Então, para o bloco temático Língua Escrita, o professor precisa criar situações estimulantes de leitura e escrita, possibilitando o acesso aos mais diversos gêneros. O que se busca com essa prática é formar leitores e escritores eficazes, que compreendam o que leem e saibam se expressar claramente por escrito.
Em relação à produção textual, o PCN lembra que muitas vezes os alunos não são orientados a revisar e corrigir seus textos. A criança só entrega a produção e o professor corrige os erros de pontuação e ortografia. Contudo, para adquirir conhecimentos sobre a língua, é preciso pensar sobre isso. Então é preciso abrir um espaço para que o aluno leia o que escreveu, analise se a mensagem está clara e refaça se preciso.
E a análise e reflexão sobre a língua já vão surgir durante as atividades com língua oral e/ou escrita.
Até na alfabetização isso acontece, já que para aprender a ler e escrever é preciso pensar sobre a escrita, o que ela representa e como representá-la graficamente.
RECURSOS DIDÁTICOS
Esse é um assunto delicado, pois sabemos da situação das escolas públicas brasileiras. Muitas não têm nem estrutura física para funcionar com qualidade, muito menos recursos didáticos. Mas nesses casos é possível confeccionar o próprio material didático. Algumas dicas do livro são;
- Criar um acervo na sala com doações e produções dos próprios alunos;
- Uso do gravador (hoje seria o celular) para revisão de textos orais produzidos pelos alunos. Nesse momento também é possível observar a entonação, ritmo e vícios de linguagem;
- Uso de dicionários;
- Uso de computadores e tablets
Mas não basta ter um computador para cada aluno se as aulas não forem planejadas com foco pedagógico. É muito válido usar a tecnologia para um momento de descontração, só não o tempo todo.
PRIMEIRO CICLO
Os objetivos principais para o primeiro ciclo são:
- Compreender o sentido nas mensagens orais e escritas;
- Utilizar a linguagem oral com eficácia e adequá-la às intenções e situações comunicativas;
- Produzir textos escritos coesos e coerentes.
Repare que o último objetivo não fala sobre ortografia, mas sobre o sentido do texto.
No capítulo de CONTEÚDOS para o primeiro ciclo o livro traz alguns valores, normas e atitudes que se espera que os alunos desenvolvam nessas séries. São elas:
- Interesse por ouvir e manifestar sentimentos, experiências e opiniões;
- Fazer-se entender e procurar entender os outros;
- Valorização da leitura como fonte de fruição estética e entretenimento.
Na sequência são apresentados os gêneros adequados para o trabalho com linguagem oral e escrita.
Para linguagem oral: contos de fadas, mitos, lendas, poemas, parlendas, adivinhas, piadas, entrevistas, notícias, seminários e palestras.
Para linguagem escrita: receitas, listas, embalagens, rótulos, calendários, bilhetes, cartões, quadrinhos, cartazes, folhetos e textos de jornais e revistas infantis.
E os critérios de avaliação para o primeiro ciclo são:
- Narrar histórias conhecidas e relatos de acontecimento, mantendo o encadeamento dos fatos e sua sequência cronológica, ainda que com ajuda;
- Demonstrar compreensão do sentido global de textos lidos em voz alta;
- Ler de forma independente textos cujo conteúdo e forma são familiares;
- Escrever utilizando a escrita alfabética com a preocupação com a segmentação do texto em palavras e frases e com a convenção ortográfica (ainda que não saiba fazer o uso adequado das convenções).
SEGUNDO CICLO
Os principais objetivos para o segundo ciclo são:
- Desenvolver a sensibilidade para reconhecer a intencionalidade implícita em mensagens orais e escritas;
- Ler autonomamente diferentes textos dos gêneros previstos para o ciclo;
- Produzir textos escritos coesos e coerentes dentro dos gêneros previstos para o ciclo;
- Revisar seus próprios textos a partir de uma primeira versão.
Os valores, normas e atitudes a serem passados para os alunos deste ciclo, além do aperfeiçoamento dos conteúdos anteriores, são:
- Segurança na defesa de argumentos próprios e flexibilidade para modifica-los quando for o caso;
- Atitude crítica diante de textos persuasivos.
Os gêneros orais a serem trabalhados são os mesmos do ciclo anterior, com o acréscimo apenas dos provérbios, e na linguagem escrita os gêneros são: cartas (formais e informais), diários, quadrinhos, textos de jornais e revistas, contos de assombração, lendas populares, fábulas, textos teatrais e relatos históricos.
E os critérios de avaliação para o segundo ciclo são:
- Utilizar a leitura para alcançar diferentes objetivos, como: ler para estudar, ler para revisar, ler para escrever;
- Escrever textos com pontuação e ortografia convencional, ainda que com falhas;
- Revisar os próprios textos com o objetivo de aprimorá-los;
- Demonstrar, por meio de resumo de ideias, compreensão de textos ouvidos.
Este é um resumo bem detalhado dos Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa para os anos iniciais do ensino fundamental. Para mais informações CLIQUE AQUI.